Mahatma Gandhi
Gandhi, como todos sabem, foi um dos maiores
personagens que já passaram pela história da Terra, digo dos maiores, por que
ele não apenas falava palavras bonitas de Satyagraha (busca de verdade) e de
Ahimsa (não violência para com TODOS os seres), mas, sobretudo por que ele
vivia o que pregava e por isso dava o exemplo, não se conformando com o domínio
dos hindus pelos ingleses e nem dizendo que os hindus deveriam se resignar com
tal situação e ficarem orando para que os ingleses fossem embora, mas Gandhi foi
à luta pacifica, mobilizando todo um país (a Índia) a resistir ao domínio
inglês através da não violência. E conseguiu, com a não violência, libertar a
Índia. Gandhi foi e deveria continuar sendo um exemplo para todos os espíritas,
pois souber aliar a não violência a uma não resignação, resignação esta que
parece ter tomado conta dos espíritas.
Martin Luther King
Martin Luther King, era outro adepto da não violência e também foi à luta
pacifica, mobilizando milhares de negros a lutarem por seus direitos,
pacificamente, desrespeitados que eram pelos brancos racistas. Luther King
orava como pastor batista que era, mas não ficava só na oração e nem se conformava com a situação, por que
seria, como muitos pensariam em casos parecidos, a vontade de Deus ou provações
coletivas. Sabia que tinham que lutar pelos seus direitos e conseguiu, a custo
da própria vida, avanços significativos no seu sonho de igualdade entre brancos
e negros, através da não violência. Luther King é, portanto, a exemplo de
Gandhi, alguém que deveria ser um referencial para todos os espíritas.
E Chico Xavier? Chico não viveu sob o jugo
inglês na Índia e nem pertencia à raça negra oprimida pelos brancos sulistas
racistas dos EUA, mas viveu no período da ditadura militar de 64 e mesmo que
não pudesse ir contra a ditadura, que era bem pior que os ingleses ou os
brancos racistas do sul dos EUA e o mataria com certeza, era de se esperar que
não se mostrasse tão conformista com a situação, conformismo esse que mais
tarde se transformaria na sindrome de Poliana, que permeia o movimento
espírita. Aliás, os livros que tratam da personagem Poliana, a qual tentava
enxergar sempre o bem, até onde ele não existisse, demonstra bem o papel do “espírita
caridoso” que não usa nem a razão nem a criticidade. Ouvi certa vez o relato de uma espírita
que ao ser assaltada do lado de fora do Centro Espirita,
esses espiritas Polianas tentaram calar sua revolta dizendo que o
"irmãozinho" veio saldar uma dívida passada.
Ou seja, tudo está as mil maravilhas, mesmo que tudo vá mal. Este é o espírito
da Síndrome de Poliana, do conformismo extremo. E a prova disso está na
entrevista dada por Chico no Programa Pinga-Fogo, de 28 de julho de 1971,
quando perguntado se o fato dele ensinar que se as pessoas agüentassem firmes
os problemas da vida, pois as dificuldades, por pior que sejam, são penas que
devemos cumprir com calma e tudo faria parte de uma ordem superior, que foge ao
nosso controle, não seria uma postura conformista, Chico respondeu:
“O espiritismo nos pede paciência para esperar
os processos da evolução e as realizações dos homens dignos que presidem os
governos, cooperando de nossa parte, tanto quanto possível, para que as leis
desses mesmos governos sejam executadas”.
Ou seja, em plena ditadura militar, o médium
mineiro pede apenas que as leis em vigor sejam respeitadas. Só que estas mesmas
leis permitiam ou ordenavam censura, perseguições, exílios, torturas e mortes.
Pelo pensamento de Chico, as vítimas de tais leis certamente cometeram muitos
erros em suas encarnações passadas. Ainda bem que estavam sendo devidamente
purgadas pelos “homens dignos que presidem os governos”. Homens como Médici,
Costa e Silva, Castelo Branco e Geisel. Oras...
Dizem que Chico Xavier realmente dedicou sua
vida a ajudar os que precisam de auxílio e não se aproveitou do respeito que
conquistou para fazer fortuna e tornar-se poderoso. E neste ponto, para muitos,
é exemplo de caridade, e isso basta, para muitos o considerarem “espírita por
excelência”, mas lembremos que Chico nasceu pobre, ao contrário de Madre Tereza
de Calcutá que nascida em família rica, abriu mão de tudo para se dedicar aos
pobres da Índia. Muito mais caridosa, a meu ver do que Chico que, de nada teve
que abrir mão.
Falam também no bem que Chico prodigalizou ao confortar as mães que iam buscar
informes sobre os filhos desencarnados, mas esquecem-se que esse “conforto” é
passageiro, pois não nasceu do real entendimento e de mais a mais, os filhos de
outras mães não pararam de desencarnar; as cartas de Chico pararam de serem
escritas e não tem mais quem engane – digo, conforte – as mães. Só há, o que já
havia e que explica, sem misticismos quem somos e para onde vamos, ou seja, a
codificação.
E em relação a Gandhi, Luther King e Madre Teresa, Chico, a meu ver, ficou bem
para trás, pois se não pudesse se manifestar ativamente contra a ditadura e se
mostrasse conformado com ela, reconheço, que pelo menos não pregasse o
conformismo paralítico aos espíritas brasileiros. E quanto a caridade, desde
quando psicografar é caridade? Desde quando não doar órgãos é caridade? Tudo
bem que era uma opção do Chico não doar e passar horas psicografando, mas não é
caridade. Caridade para mim é o que Madre Teresa fazia.
E Gandhi e Luther King deram o exemplo de como se mantém a dignidade, indo à
luta pacifica sobre o que acreditam, não se conformando jamais com a situação
em que se viam, como povos hindus ou negros oprimidos pelos dominadores
ingleses ou brancos. Chico deu o (mau) exemplo, no cerne deste artigo, de como
o conformismo pode ser bastante útil aos dominadores que mandam, oprimem e
exploram, exatamente por que sabem que não encontrarão resistência.
Nesta análise eu utilizei os bons exemplos de um hindu, de um protestante batista e de uma católica e um, a meu ver, mau exemplo de alguém tido como espirita (mas que não é).
Caro Jorge,
ResponderExcluirdescobri o seu blog por acaso, pesquisando sobre músicas espíritas. Concordei com a sua opinião de que o acervo de músicas produzidas por espíritas é de qualidade sofrível e que podemos fazer uso de outras músicas seja para a harmonização, para a descontração ou para sensibilizar com as mensagens.
E segui lendo o seu blog. Concordei com algumas ponderações suas sobre o "chiquismo" que há entre os espíritas. Um resquício visível de séculos de catolicismo.
Não sou defensora do Chico e gosto do pensamento crítico (que aliás foi o que Kardec nos ensinou antes de tudo). Mas queria fazer uma observação, principalmente após a leitura deste texto.
Chico, apesar de tudo, contribuiu para o espiritismo. Muitos podem ter distorcido ou mal compreendido muitas coisas. Contudo, resta-nos os fatos ocorridos, as evidências. Ele tornou pública a mensagem espírita. A sua mediunidade foi uma forma de "visualizarmos" as descrições do Livro dos Médiuns. Se Kardec não tinha computador, Chico também não. Fez tudo na mão e na vela! E nos deixou mensagens que contribuíram muito para enriquecer de exemplos a doutrina codificada por Kardec.
E quanto a sua observação sobre o conformismo questionado pelo Pinga Fogo em 71, em plena ditadura militar, questiono: você falaria diferente? Eu não falaria. Isso porque não é qualquer um que está preparado para esse tipo de missão. E o Chico, mesmo tendo feito muitas coisas, era também um espírito em aprendizado, como nós. Vale para ele o que vale para todos: temos que aproveitar o que há de melhor em cada um, sem síndrome de Poliana.
Parabéns pelas suas pesquisas e continuarei visitando mais vezes!