domingo, 22 de julho de 2012

O Palavrão



O texto abaixo é adaptado dos artigos de Moura Rego no site Forum Espírita.





Muitos são os espíritas que dizem que as palavras tem poder, vibração, que impelem a isso ou aquilo. Isso não é verdade, pelo menos não nessa explicação restrita. E isso é visto quando um personagem televisivo de O Bem Amado, Odorico Paraguassu, afirma que “palavras são palavras, nada mais do que palavras”, no que estava absolutamente correto, pois as palavras são absolutamente o que são, apenas palavras, sem poder algum, sem vibração alguma; não tem peso maior ou menor.

E isso é demonstrado em diversas páginas de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando afirmam que “Deus julga mais pela intenção que pelo ato sem si mesmo”. Então por que que  se diz tanto que as palavras podem fazer mal ou bem? Porque assim que o é, mas não pela palavra em si, mas pela intenção que orienta o pensamento que faz com que certas palavras, dentro de um contexto específico, sejam ditas.

Vou lhes dar dois pequenos exemplos das palavras e de como elas podem ser ditas, na má ou boa intenção:
1.     
      Falo apenas a frase, “a jamanta estacionou”, numa situação em que se está num posto, e se vê encostar um caminhão ou mesmo um ônibus. Qual o mal que possa conter essa assertiva? Nenhum, não é mesmo?

Agora mudando de situação, vemos uma mulher extremamente gorda, encostar-se num balcão qualquer, de farmácia, de bar, ou de uma repartição pública, por exemplo. Ai, alguém diz a mesma frase de antes "a jamanta estacionou".  Haverá, ali um posto? ou mesmo um caminhão? O que aquela pessoa quis atribuir à palavra "jamanta", foi um sentido pejorativo, ou seja, uma adjetivação nociva.

Está claro que dita nesse contexto, a frase "a jamanta estacionou" trás a intenção de diminuir, adjetivar malevolamente, colocar em posição vexatória a mulher gorda, que com certeza, pelo extremo peso, nos da conta de estar acometida de obesidade mórbida, que é uma doença grave que leva à morte. É a intenção que patrocinou o pensamento na frase que está viciada, de maldade, falta de amor ao próximo, de insignificância Espiritual, não a frase em si ou mesmo o vocábulo "jamanta"

Todavia vemos freqüentemente em palestras o ensino errado perante a lei de Justiça, Amor e Caridade, ser ministrado pasmem, numa casa espírita ou mesmo em auditórios, por palestrantes que se dizem Espíritas. Há maldade neles? Não, apenas ignorância doutrinária; apenas mau entendimento da língua que usam para falar.

Cada palavra em si pode ter uma fieira de significados que se lhes apõem os que as dizem, segundo a intenção com que queiram urdir o comentário que fazem.

Tomemos por exemplo, em outro caso, a palavra "mina". O que é uma mina? No sentido mais empregado é o local de onde se extrai qualquer minério, não?

Pode ser também, segundo o caso, um artefato bélico de fim destrutivo ao homem.

Ora, ainda nesse exemplo, é a intenção que comandará a compreensão do vocábulo "mina", se o contexto da exposição ou da frase   tem como imagem um campo de guerra, o vocábulo "mina", estará indicando o artefato.

Se, noutro contexto, a idéia a ser passada é a de noticiar-se o caso dos mineiros do Chile, o vocábulo estará sob a intenção do locutor, de trazer o conteúdo dos acontecimentos que se acometeram sobre aqueles 36 mineiros chilenos e nada mais. Porém, há um outro exemplo, com o mesmo vocábulo, "mina", que não se pode deixar passar pois vai demonstra tento a intenção quanto o contexto e mais, o valor de uma língua, como a portuguesa, no campo da gíria, por exemplo. A banda tão conhecida e amada, até hoje reverenciada por seus fãs, "Mamonas Assassinas" Tinha uma canção, bem humorada, que trazia na letra a palavra "mina" não é mesmo?

Vale lembrar o logo o comecinho desta canção:"Mina, teus cabelos é da hora, teu corpão violão (...)"

Aqui temos o mesmo vocábulo utilizado nos dois exemplos anteriores, "mina", mas traduzindo uma idéia completamente diferente dos dois exemplos acima.

É que o letrista aproveitando-se do que chamamos gíria, usou do vocábulo "mina', coma intenção de chamamento a uma mulher, uma garota, pois "mina", na gíria brasileira, quer dizer garota, menina, tal com se ele tivesse usado "gatinha", por exemplo. E lembramos ainda, uma terceira acepção para o vocábulo “mina”: o das minas terrestres, tão combatidas pela Lady Di, pelas amputações causadas nos países onde haviam sido enterradas.

Há mal nos três últimos momentos de uso do vocábulo "mina"? Vocês decidem...

Intenção, hora e lugar meus amigos .

Eu digo por exemplo, sou um filho da mãe, querendo indicar minha progenitora, há mal nisso? Seria eu, por acaso filho de minha avó? Ou de minha tia?

Se por outro lado, eu uso da mesma frase, num momento em que estou chateado com minha mãe e exclamo, "sou um filho da mãe", ai sim haverá um contingente de maleivosia a acompanhar a frase dita., nesse momento de ira, uso das mesma frase atribuindo à expressão "filho da mãe" um forte contingente de intenção que explicará a expressão usada como pejorativa, ou seja coberta pelo ódio sentido, querendo mostrar minha progenitora como mulher vulgar etc. Nesse contexto há o mal falar, o resmungo, o murmúrio e sob o olhar da doutrina espírita o murmúrio, é um momento de menos valia passado pelo Espírito.

Portanto meus amigos, vamos prestar atenção, como ensina a doutrina, não à forma, mas ao conteúdo, ou seja ao contexto no qual estão inseridas as palavras.

Num show de humor, não há qualquer mal, em ouvir-se um palavrão, visto que este é apenas um ponto de atração que dá mais ou menos força à piada contada, apenas isso. O humorista Renato Aragão vive dizendo uma palavra que era até bem pouco tempo considerada palavrão: “porrada!”, o que para alguns é considerada normal dentro da moral social em que é dita. Como nas palavras encontradas no Velho Testamento, citando a prática sodomita, também não há mal no uso das expressões ali contidas, que mesmo não contendo a intenção de diminuir, querem por seu uso apontar para uma situação desconexa da moral daquele tempo.

E há palavras consideradas palavrões por uma cultura e são de uso corrente e normal por outra cultura. Por exemplo, no português falado em Portugal, “puto”, que seria considerado um palavrão pelo português falado no Brasil, quer dizer em terras portuguesas, tão somente garoto; jovem espertalhão; ou ainda catraio; miúdo, enquanto que no Brasil quer dizer o mesmo que dissoluto, devasso, corrompido.E o inverso se dá com a palavra "paneleiro", que se no Brasil quer dizer apenas armário onde se guardam panelas ou mais antigamente, homem que conserta ou vende panelas, em Portugal significa homossexual masculino.

Há hora, local e intenção. A cada hora, para cada local, a mesma palavra pode significar outra coisa,  para não falar sobre a intenção com que sejam ditas. Creio que tenha sido pelo óbvio motivo de que um palavrão ilude quem o fala com um uma aura de tenacidade, segurança, força mesmo, forjada já no nascedouro da manifestação assim veiculada.

A maioria das palavras chulas já se desvinculou do significado original...  No Brasil muito pouca gente hoje em dia sabe qual a exata origem de termos como "sacanagem" - virou sinônimo de "atitude traiçoeira", molecagem, brincadeira de mau gosto ou, voltando mais um pouco no tempo, "aleivosia”...

Outros termos também perderam muito de sua acidez se ditos de maneira geral. Nossa língua é uma das mais difíceis de ser bem falada e compreendida, tem, para uma palavra uma quantidade de sinônimos que não ocorre na língua inglesa, por exemplo.

Há momentos, lugares, e situações onde nem mesmo o emprego de um palavrão trás qualquer baixeza, má educação, ou mesmo um sentido chulo. Contudo, há de se preocupar com o todo, ou seja, se estamos num local público, haverá sempre alguém que não queira escutar um palavrão e este tem o seu direito assegurado.

Mas como tudo e em tudo há de ter o gosto do "freguês", imaginemos nossa vida sem a TV, sem o teatro, o cinema ou os livros, mesmo os de poesia moderna... quem não gosta ou quem acha ruim não deveria ligar seu televisor, nos canais abertos ou pior ainda nos a cabo, pois ali está eles a serem reverberados. Todos estes veículos da comunicação e da educação trazem palavrões.

Sobrariam então os canais religiosos de qualquer denominação, culto ou filosofia.

Quem vai a shows de humor de qualquer categoria teatral os ouve.

Se vão sabendo que eles lá existem das duas uma: Ou são permissivos ou hipócritas.

E dizem: “Meninos e meninas, cuidado com esse tipo de pensamentos.”

São eles retrógrados, bobos e muito, mas muito mesmo, preconceituosos, pois o palavrão, é uma palavra como outra qualquer, no ver da doutrina é a intenção que comanda o ato de dizer ou falar ou mesmo pensar, que faz a coisa ficar pesada, por isso  mesmo é o ditado popular, que dizer ser a voz do povo e se o é é, por outro ditado popular, "a voz de Deus", mesmo o ditado popular nos ensina mais uma vez: "Em cada cabeça uma sentença" ou mais, "sua cabeça é o seu mestre".

Logo, generalizar-se uma idéia que se sabe pueril e retrógrada, é o mesmo que se andar na contramão da história, do saber e da vida. É o mesmo que dizer que Espíritas são santos, iluminados, ou seres a parte num mundo de provas e expiações.

Hora e lugar, situação ou acontecimento... Vocês não dizem "graças a Deus", quando dão uma topada com o joanete dolorido ou com o calo de estimação, dizem?

Também não rendem aleluias quando dão uma martelada no dedo, dão? Palavras por serem apenas isso não contêm como alguns explicam e erradamente, vibração alguma, é mesmo como aquele dinheirinho ganho de um número acertado no jogo do bicho. Dinheiro não fica sujo senão quando cai numa poça de lama ou quando é prática de suborno. O que você faz como dinheiro que ganhou num jogo é o que você tem como correto fazer,  vai da sua moralização. Sendo assim se pode afirmar sem medo de erro que o palavrão sem dito sem intenção de ataque, acicate, injuria ou xingamento a outrem nada tem a mais do que a palavra, por exemplo, jamanta.

O que há e em demasia é o falso moralismo, uma atitude reprochada pela doutrina, há ainda a hipocrisia, uma atitude das mais criticadas e combatidas por Jesus.

O que imanta o pensamento é a intenção com que o pensamento é urdido, só isso. A palavra não tem qualquer poder senão quando movida por uma intenção se esta é boa, ótimo, é uma causa que gerará um efeito benéfico, se, por outra, o pensamento é impulsionado por uma má intenção surtirá, logicamente um efeito negativo, só isso. A doutrina e não eu é, quem ensina assim. Sigamos a doutrina.



Que ninguém ache que fazemos apologia dos palavrões. Apenas vemos que determinados termos se incorporaram ao idioma e se tornaram normais dentro da moral social de uma época. Hora e lugar meus amigos, sem intenção malévola, esta a questão.


Um comentário:

  1. De fato, há palavras que são ditas apenas por dizer, que perdem totalmente o seu sentido. Quantas vezes já dissemos ‘desculpe’ sem um pingo de remorso pelo que fizemos, ou já dissemos ‘te amo’ sem tanta certeza do sentimento, ou afirmamos ‘sim’ mesmo que por dentro estejamos nos mordendo por concordar com algo que a palavra ‘não’ expressaria mais perfeitamente. Por outro lado, ninguém vai dar uma ‘cantada’ numa garota falando palavras grotescas, ou fazer uma declaração de amor cheia de palavrões: escolheremos sempre palavras agradáveis que inspirem um bem querer, certo?
    Como o Jorge bem retrata no artigo, sem dúvida alguma muito importa o que a palavra pronunciada carrega: há o ‘eu te amo’ vazio e o ‘seu filho da égua’ amigável.
    Apenas lembrando que há tempos um grande mestre nos ensinou que ‘a boca fala aquilo de que o coração está cheio’, o que me leva a crer que o uso constante de palavras chulas retratam um coração cheio de sentimentos negativos, como raiva, ressentimento, impaciência, egoísmo, entre outros inúmeros que só fazem mal a quem os carrega e os despeja em cima dos que o rodeiam. Às vezes nem usam palavrões, mas palavrinhas que ferem e ofendem.
    Adorei seu convite para abandonarmos o falso moralismo e hipocrisia, e tomo a liberdade de prolongar o convite para que cada um seja um pouco mais responsável com suas palavras, afinal, ‘respeito é bom e conserva os dentes’.
    Abraço!

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