quinta-feira, 28 de junho de 2012

Jesus: Era Ou Não Era o Espírito Da Verdade?


Jesus: Era Ou Não Era o Espírito Da Verdade?



        “Ser ou não ser, NÃO é esta a questão”. 

A frase de Shakeaspeare, modificada em seu sentido original, já demonstra o meu parecer final sobre essa questão que divide os espíritas: Jesus ser ou não ser o Espírito da Verdade, como se tal coisa fosse dar maior autoridade à doutrina espírita, que segundo Kardec, reside no Controle Universal do Ensino Dos Espíritos e não no controle por um único espírito, mesmo que fosse Jesus. Além do mais, cita o Codificador que as revelações vieram sempre por meio de uma pessoa: a 1ª  com Moisés e a 2ª com Jesus, mas a 3ª não tinha ninguém a personificá-la, pois veio por uma multidão de espíritos que a revelaram. Finalmente, o que é mais importante na doutrina, que se diz universal? A moral, conseqüência de toda uma filosofia baseada na ciência espírita (moral esta que é a mesma atribuída a Jesus, a chamada moral cristã) ou que Jesus tenha sido e não pode deixar de ter sido, segundo alguns, o Espírito de Verdade?

Parece-me que a posição de achar que era não é a questão, pois nos leva a crer que se Jesus não for o Espírito de Verdade – questão que alguns tem como capital – o edifício espírita desmoronaria e não seriam mais espíritas. Se for essa mesma a posição inarredável dos que crêem firmemente que Jesus haja sido o Espírito da Verdade, isso nos parece, embora respeitável seja a crença, uma crença baseada em atavismos religiosos, dos quais algumas pessoas, mesmos as mais esclarecidas, ainda não conseguiram se desvencilhar.

Minha posição sobre o tema parece já ter sido exposta, mesmo sem eu ter afirmado ou negado, apenas pela minha exposição inicial sobre o tema. Embora eu ache que não seja a questão saber se Jesus era ou não o Espírito da Verdade, a minha opinião é a de que não era, contrariamente ao que pensam outros companheiros, tal como Maria das Graças Cabral, Sérgio F. Aleixo e Artur Felipe Azevedo, entre outros.

Eu desconheço a tendência espírita de Sésio Santiago – se um espírita mais voltado para a racionalidade ou se um espírita que acredita em tudo que lê – mas, entendo que uma das razões citadas por ele, para afirmar que Jesus fosse o Espirito da Verdade, é de uma fragilidade imensa, se utilizada por um espírita mais esclarecido, pois este não reconhece o que André Luiz cita em suas obras e ao mesmo tempo aceita outra citação, a de que o instrutor espiritual Alexandre, no Livro Missionários da luz, obra ditada por André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier: “Por que audácia incompreensível imaginais a realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade, que é o próprio Senhor?”, fosse argumento sólido o bastante, para justificar a posição.

A meu ver, esse argumento perde a força, que já não teria, se dito por um espírita adepto do misticismo, se pronunciado fosse por um espírita adepto da racionalidade, exatamente por ser incoerente: ora, crê no que Andre Luiz diz; ora, não crê no que ele cita.
Outro argumento que merece observação é o que Sérgio Aleixo utiliza: “Vemos que, em termos rigorosamente kardecianos, está dirimida esta dúvida quanto à individualidade e à identidade do Espírito de Verdade. Ele é único! Ele é Jesus! A menos que não tenhamos motivos para confiar em Kardec e nos espíritos da codificação.”
Tal postura, embora nos caiba respeitar – e respeitar é diferente de concordar, pois podemos discordar respeitosamente – nos parece uma obediência cega a Kardec, do mesmo modo que outros espíritas seguem cegamente o que Chico Xavier dizia ou escrevia.  E o que Kardec pregava era o uso da razão e bom senso em tudo, inclusive nele mesmo pois disse: “Se tenho razão, todos acabarão por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os outros”.
E não custa lembrar que não ter motivos para confiar de Kardec não é a mesma coisa que ter razões para desconfiar de Kardec, pois na primeira está implícita uma confiança cega, do tipo “eles NUNCA erram” e na segunda, estaria entendido como “ele SEMPRE erra, pois já peguei vários erros dele”, mas fico com a opção da razão e bom senso que até Kardec já errou e os espíritos da Codificação já admitiram que mesmo para eles há coisas não reveladas. Ou teríamos motivos para confiar em Kardec no caso defendido por ele da geração espontânea ou na perfectibilidade da raça negra, teorias de uma época dele. E por que teríamos razão para confiar nele só por que ele (não) disse que Jesus era o Espírito da Verdade? Apenas por que enxergamos na (não) confirmação de Kardec o que queríamos enxergar e satisfaria o nosso resquício de atavismo religioso (“Ele é único! Ele é Jesus!”)
Outra coisa que os espíritas esquecem, é a de que não há médiuns perfeitos. Alguns se lembram dessa máxima para criticar Chico Xavier dizendo que ele não era perfeito como médium e podia ser enganado pelos espíritos. Afirmação correta, mas pensemos: as irmãs Baudin; Ermance Dufaux e Ruth Japhet, as que Kardec utilizou, eram médiuns perfeitas? Se não há médiuns perfeitos, está respondida a questão. E elas teriam recebido apenas Espiritos Superiores (e Zéfiro ou Zephyr, que teria sido druida juntamente com Kardec na Gália, não era um espírito superior, mas sim um espírito bom e benfazejo). Acompanhemos o diálogo delas que consta do livro de Canuto de Abreu: “O Livro dos Espíritos e Sua Tradição Histórica e Lendaria”:
- ... No dia 1º de janeiro a sessão foi aberta, às oito horas da noite em ponto, de portas fechadas, com uma prece feita pelo Professor, de pé, solenemente, como se fosse um padre, e de improviso. Mas as palavras não eram de nenhuma reza eclesiástica nossa conhecida nem aquela ditada por ZÉPHYR. Este saudou a todos amistosamente e anunciou-nos  o comparecimento de vários Espíritos superiores, citando-lhes os nomes com deferência, isto é, um abaixo de outro, destacadamente.
- Lembra-se de alguns?
- Santo  AGOSTINHO,  S. JOÃO EVANGELISTA, São  VICENTE DE PAULO...
- Diversos Santos, enfim, interrompeu Ermance.
- Também SÓCRATES, FÉNELON, SWEDENBORG, HAHNEMANN...
- E O LIVRO principiou a ser escrito, insinuou Ermance.
- Não sabíamos a essa altura coisa nenhuma a respeito. Sendo o Senhor RIVAIL Mestre-escola e falando-nos várias vezes dum curso, supusemos desejasse transformar as sessões em aulas para um aprendizado metódico.
Muitos consulentes, que só vinham aos Espíritos para lhes perguntar tolices sobre casos domésticos, desconfiando da nova orientação, não voltaram mais.
Ficaram, porém, alguns mais dispostos a aprender, satisfeitos com o sistema novo. E assim, duas vezes por semana, às quartas e sábados, mantivemos sessões importantes de perguntas e respostas sobre temas elevados, propostos pelo Professor e resolvidos por Espíritos superiores.
- Muito curioso o sistema, concordou Ermance. E assim...
- Espere, querida. Uns três meses depois de inaugurado esse curso, quando já era grande a cópia de ensinamentos, o Guia espiritual do Professor manifestou-se, pela primeira vez entre nós, dizendo que, na véspera, à noite, havia dado ao Professor, aqui nesta casa, sinais percucientes na parede com o intuito de o impedir de escrever certo erro na obra em elaboração.
- O Professor escrevia a obra durante as sessões?
- Não, Ermance. Escrevia aqui, em casa dele, com todo o sigilo. Só então é que soubemos não se limitar o Professor  RIVAIL, como nos parecia,  a colecionar ensinos para uso privativo, mas escrevia uma obra a respeito do 'Spiritualisme' e sob a vigilância invisível de seu Guia.
- De SÓCRATES, completou Ermance.
- Não. Do Espírito VERDADE.
- Espírito VERDADE? Curioso! - exclama Ermance. São LUÍS disse-me ter por Chefe o Espírito VERDADE. Será o mesmo?
- Talvez. Espírito VERDADE deve ser um só.
- Mas, Caroline, Você não me falou há pouco ser  SÓCRATES o Guia do Senhor RIVAIL?
- Não. Disse-lhe que o Professor o 'evocava' mentalmente e 'desejava' a assistência dele para  'desvendar' a verdadeira  'Filosofia dos Espíritos'. Não falei porém que o filósofo grego era seu Guia. O Gênio Protetor do Professor RIVAIL chama-se Espírito VERDADE.
- Mas Você, Caroline, não percebe o simbolismo da expressão  'Espírito VERDADE'? Para mim São LUÍS se refere a uma Entidade oculta sob o véu dum símbolo. Símbolo aliás, que cabe perfeitamente a SÓCRATES.
- Quando ainda novato em nossas sessões - replicou Caroline. O Professor um dia quis saber se, como nós outros também, ele tinha um Gênio Protetor.
ZÉPHYR, respondendo afirmativamente, acrescentou, em resposta a outra indagação do Senhor RIVAIL: - "Seu Gênio foi na Terra um homem justo e sábio".
- Pois então! - exclama Ermance.  SÓCRATES foi um homem justo
- De acordo. Mas...
- E 'amigo da Verdade', insistiu Ermance, com ares triunfantes.
- Mas  JESUS? - contrapõe Caroline. Não foi  o mais justo e sábio dos homens? Não foi a própria Verdade?
- Sim, mas  JESUS era Deus, sustentam Ermance. E, como homem, foi o 'mais' sábio, o 'mais' justo – Você mesmo acabou de dizê-la - e não 'um justo e sábio' como alguns outros homens.
-  DEUS é a  'Causa Primeira', a  'Inteligência Suprema', replicou professoralmente Caroline. Os Espíritos superiores ensinam ser  JESUS um Espírito bem superior, não porém a 'Causa Primeira'.
- Sem discutir esse ponto, que é de Fé, pergunto-lhe: Se o Guia do professor foi  'um homem justo e sábio', que homem o Professor supõe haja sido o Espírito VERDADE? - questionou Ermance.
- Se ele o sabe, nunca o disse a nós. Creio, porém, que o não sabe.
Quando pela primeira vez falou com o Guia em nossa casa, o Professor perguntou ao Espírito se havia animado alguma personagem conhecida na Terra.
E o Gênio respondeu-lhe:
-  "Já lhe disse que, para Você, sou  A VERDADE. Este 'para Você' implica 'discrição'. De mim não saberá mais nada a respeito".
- Para nós, intervém Julie, o Espírito  VERDADE não é  SÓCRATES, pois este, quando se manifesta, declina o nome ou é anunciado por ZÉPHYR.
- Para mim, opinou Ruth, é JESUS.
- Pode ser, apoiou Ermance. Só assim poderia ser Chefe espiritual de São LUÍS.
- Respeitemos o sigilo imposto pelo próprio Espírito, ponderou Caroline. Ir além seria imprudente. Essa questão de identidade foi  objeto de exame em nossas reuniões, e  ZÉPHYR limitou-se a pedir-nos decorássemos a afirmativa de  SÓCRATES que já lhe citei e vou repetir: -  "A verdadeira 'Filosofia dos Espíritos' só poderá ser revelada ao que for digno de receber  A VERDADE".

Como notamos, nesse dialogo, elas mesmo não se entendiam quanto a quem seria o Espírito da Verdade, umas achavam que seria Sócrates e outras achavam que seria o próprio Jesus. Mas, ora, se nem elas que receberam todos os espíritos que ajudaram em O Livro dos Espíritos sabiam quem era o Espírito da Verdade – e ele consta dos Prolegômenos – com que autoridade nós, mais de 150 anos após afirmamos com tanta certeza que Jesus era o Espírito da Verdade?

Notem que o Guia de Kardec, em vermelho – que nada mais seria do que o Espirito da Verdade, como se depreende dos trechos seguintes – usa de pancadas na parede para chamar a atenção. 

Um espírito que seria puro por excelência usaria de métodos de espírito batedor para se comunicar, dando batidas na parede? Um Jesus batedor?

E as meninas que Kardec utilizou como médiuns eram católicas, na verdade, como se infere da afirmativa delas em “Mas as palavras não eram de nenhuma reza eclesiástica nossa conhecida (...)” Eu não esperaria que elas dissessem que o Espírito da Verdade seria Krishna ou Buda, dois indianos, estranhos a cultura cristã, delas e nossa também, natural que dissessem que era Jesus, até por atavismos.

Outro companheiro nosso, Artur Felipe Azevedo, afirmou que por causa das evidencias, Jesus era o Espirito da Verdade. Agora pergunto: que evidencias? O fato de Kardec crer que Jesus fosse o Espírito da Verdade não é prova de nada, aliás quando ele no Livro dos Mediuns recebeu comunicação assinada por Jesus, Kardec mesmo deixa escapar sua religiosidade ao dizer “Esta comunicação,... foi assinada com um nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão sob todas as reservas tão grande seria o insigne favor de sua autenticidade ... Esse nome é o de Jesus de Nazaré”

Só que Kardec escrevera em A Genese (última obra dele) que:

 37. - [...] Sob o nome de  Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que  havia de ensinar todas as coisas e de  lembrar  o que ele dissera. Logo, não estava completo o seu ensino. E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias,  restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com  o verdadeiro pensamento de seus ensinos.
[...]
39. - Qual deverá ser esse Enviado? Dizendo: “Pedirei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador”,  Jesus claramente indica que esse Consolador não seria ele  (grifo nosso), pois, do contrário, dissera: “Voltarei a completar o que vos tenho ensinado”. Não só tal não disse, como acrescentou:  A fim de que fique eternamente convosco e ele estará em vós. Esta proposição não poderia referir-se a uma individualidade encarnada, visto que não poderia ficar eternamente conosco, nem, ainda menos, estar em nós; compreendemo-la, porém, muito bem com referência a uma doutrina, a qual, com efeito, quando a tenhamos assimilado, poderá estar eternamente em nós.  O  Consolador é, pois, segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o  Espírito  de Verdade.
40 - O Espiritismo realiza, como ficou demonstrado (cap. 1, nº 30), todas as condições do  Consolador que Jesus prometeu. Não é uma doutrina individual, nem de concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É fruto do ensino coletivo dos Espíritos,  ensino a que preside  o Espírito de Verdade. [...]

E ai voltamos ao questionamento de Sérgio Aleixo: a menos que não tenhamos motivos para confiar em Kardec, pois o mesmo disse em sua última obra que o Consolador (o Espírito de/da Verdade) seria o Espiritismo.

Muito mais eu poderia dizer para defender minha tese, mas isso não me levaria a lugar algum, assim como não levará os defensores do Espirito da Verdade é Jesus a lugar nenhum, a não ser em ambos os casos a uma satisfação tola do”eu estava certo, viram?” Para mim não era, e para outros eram. Que fique para nós os achismos, pois este é  o caso do ser ou não ser, não é esta a questão, ao contrario de outra questão, o do espiritismo ser ou não religião, outro cavalo de batalha dos espíritas. Nesta questão – religião ou não – Kardec foi bem claro, ao pedir que não chamássemos o Espiritismo de religião mesmo no sentido filosófico, pois as pessoas confundiriam, mas na outra questão, Kardec não foi claro quanto a quem seria o Espírito da Verdade: ora, era um celebre filósofo da Antiguidade; ora, era o próprio Jesus; ora, era o Espiritismo que seria o Consolador, mas o insigne pesquisador se sabia, não disse, não foi claro e irretocável em seus argumentos de que era ou não o Espirito da Verdade e se não sabia, julgou não ser importante se era ou não Jesus.

Aliás, se se comprovar que Jesus historicamente nunca existiu? Já pensaram nisso? Isso representaria um desmoronamento na maneira de pensar de muitos, inclusive nas mentes dos que pensam no Espírito da Verdade como sendo Jesus. Na cabeça dos que tem Jesus como guia e modelo, e não como personagem histórico sempre presente, mas mais como arquétipo, a moral atribuída a ele é mensagem que nos interessa seguir, ela sim é a questão.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Kardec: - "Antes de Crer, Compreender"






“Estudai primeiro e vede depois, porque compreendeis melhor”
Allan Kardec – Revista Espírita, maio de 1861



Estas palavras de Allan Kardec remetem claramente à questão FÉ CEGA x FÉ RACIOCINADA, pois a crença, no sentido da FÈ CEGA, vem a ser a falta de razão em atividade, ou seja, sem o estudo e pesquisa, não se chega a uma conclusão (racional) por si mesmo, mas sempre a uma aceitação de uma idéia pronta de terceiros.

Em nossa vida, quantas vezes acreditamos em algo, só porque nos contaram (geralmente na infância) e ao chegarmos a idade adulta, ao questionarmos, vimos que a maior parte delas feriam a razão? E crenças assim, obtidas desse modo, que se instalaram, cresceram e contaminaram toda uma coletividade, mais tarde vem a dominar a muitos, sem que NINGUEM possa justificar o porquê racional de crer naquilo e dizem apenas:
- Eu creio por que creio ou;
- Eu creio por que me disseram assim ou;
- É assim porque é (e não aceito que me digam que não é - mesmo que provem).

Estes argumentos acima me lembram a velha dicotomia entre FATOS (que podem ser comparados à FÉ RACIOCINADA) e OPINIÕES (que são comparáveis à FÉ CEGA), e darei um exemplo, tirado do livro “O LAÇO E O CULTO”, de Krishnamurti Carvalho Dias:


"Se alguém me pergunta pelo meu nome, só tenho que dizê-lo tal qual eu me chamo realmente, como consta de minha certidão de nascimento, de minha carteira de identidade, pois isso é um fato que não admite opinião.

Não posso pensar ou achar, julgar ou acreditar, que me chamo assim ou assado: sei que meu nome é exatamente aquele conjunto de fonemas ou sons, aquele conjunto de letras ou palavras, que expressa minha identidade pessoal.

Não opina, mas revela um fato, quem declina o próprio nome. Eu também não estou opinando, ao revelar meu endereço, meu telefone. São fatos, só tenho que informar esses dados reportá-los num ato de informação.

Todavia, se me perguntarem aquela bobagem: “De onde foi que seu pai tirou esse nome para lhe dar?”, já haverá espaço para um ato de opinião. Posso saber exatamente como foi à mecânica da escolha de meu nome por meus pais, como posso ignorar redondamente, tanto quanto posso apenas conjeturar a respeito. No caso de não saber exatamente, então fabricarei uma resposta opinativa, dizendo que, segundo acho, foi assim ou assado.

Eis a diferença entre fato e opinião, entre opinião e informação.

Informação é quando se revela um fato, algo que aconteceu realmente, independente de nós. Existe e pronto. Só cabe-nos informar a respeito.

Já a opinião leva há um pouco de nos mesmos, sob a forma de julgamento nosso, geralmente um juízo de valor e é por isso que nos afeta tanto quando vemos uma querida opinião que expendemos, ser esmerilhada sem dó pelos outros.


Se me perguntarem – “que horas são?” - o certo é limitar-me a informar o que me revela o mostrador do relógio que tenho ao pulso, sem mudar nada. O relógio reporta um fato, devo passar essa informação ao outro sem influir no dado, pois isso é informação. Todavia, se opto dizer – sem olhar para o relógio – que ACHO que ainda é cedo, ou tarde, ou que são tantas horas, pois não faz cinco minutos olhei para o relógio e era mais ou menos isso etc. estou fugindo ao fato, recusando-me a acessar e produzir uma informação, para fazer um mero exercício de opinião, a qual poderá refletir meu mau humor, meu desinteresse pela necessidade do interlocutor de apurar a marcha do tempo, minha irritação por um fato puramente irrelevante, que nada tem a ver.

Opiniões podem conter doses de preconceito, emoção, má vontade, alienação, muita coisa alheia, estranha aos fatos, expressando nesse caso o que em língua inglesa se chama “desinformação”.

Pois bem, com o espiritismo, acontece o mesmo, ou seja, alguns compreendem o FATO espírita e o informam e não apenas informam, mas procuram se informar mais sobre o mesmo, sempre baseados nas diretrizes da FÉ RACIOCINADA e métodos que a doutrina nos traz e outros, procuram passar adiante OPINIÕES, que não conseguem explicar, de forma racional e com embasamento, o porquê acreditaram nelas, o que, como já vimos, se caracteriza como uma FÉ CEGA.


É necessário, portanto, que sobre a FÉ CEGA, se sobreponha a FÉ RACIOCINADA, ou seja, se questione os fatos com base no CONHECIMENTO adquirido e também buscar conhecimentos, se os que já se tem, não bastarem para dar base à CERTEZA. Não se pode simplesmente confiar no que o outro diz sem analisar, seja quem diz, mesmo um médium de renome ou espíritos famosos, e Kardec sempre recomendou que passássemos as comunicações mediúnicas pelo crivo da razão. Os espíritas brasileiros deixaram de ler o Livro dos Espíritos e Livro dos Médiuns e preferiram ler Nosso Lar, Zíbia e Violetas Na Janela? Se foi isso, parafrasearei o Senhor Omar, do seriado “TODO MUNDO ODEIA O CHRIS”:
- Trágico, trágico!

Peço, por essa razão, licença, para trazer alguns trechos do discurso do Sr. Allan Kardec, no novo ano social, pronunciado na sessão de 5 de abril de 1861, que se encontra publicado na Revista Espírita, do mês de maio do mesmo ano, sendo que recomendo a todos que puderem, que leiam todo o discurso, pois é muito interessante. Mas, antes leiam os trechos trazidos, com muita atenção:

"(...) Por outro lado, sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção só se adquire pelo estudo, pela reflexão e por uma observação contínua, e não assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que sejam. E isto é tão verdadeiro que o número dos que crêem sem ter visto, mas porque estudaram e compreenderam, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural e estamos longe de o censurar, mas queremos que vejam em condições aproveitáveis. Eis por que dizemos: Estudai primeiro e vede depois, porque compreendeis melhor.


Se os incrédulos refletissem melhor sobre esta condição, para começar veriam nela a melhor garantia de nossa boa fé e, a seguir, a força da doutrina. O que mais o charlatanismo teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é tão tolo para se dirigir à inteligência, que facilmente descobriria a carta escondida. Ao contrário, o Espiritismo não admite a confiança cega; quer ser claro em tudo; quer que lhe compreendam tudo e que se dêem conta de tudo. Então, quando recomendamos estudo e meditação, pedimos o concurso do raciocínio, o que prova que a Ciência Espírita não teme o exame, desde que antes de crer sentimos a necessidade de compreender.

(...) Disse que as nossas não são sessões de demonstração; mas se as fizéssemos desse gênero, para uso dos neófitos, onde se trataria de instruir e convencer, tudo nela se passaria com tanta seriedade e recolhimento quanto nas nossas sessões ordinárias; a controvérsia estabelecer-se-ia com ordem, de maneira a ser instrutiva e não tumultuosa e quem quer que se permitisse uma palavra fora de propósito seria excluído; então a atenção seria mantida e a própria discussão seria a todos proveitosa. É provavelmente o que faremos um dia. Perguntarão porque não o fizemos mais cedo, no interesse da divulgação da Ciência. A razão é simples: é que quisemos proceder com prudência e não como estouvados, mais impacientes que refletidos. Antes de instruir os outros, quisemos nós próprios nos instruir. Queremos apoiar o nosso ensino sobre imponente massa de fatos e observações, e não sobre algumas experiências isoladas, observadas leviana e superficialmente. No começo, toda Ciência encontra forçosamente fatos que, a princípio, parecem contraditórios e só um estudo minuciosos e completo pode demonstra-lhes a conexão. Foi a lei comum desses fatos que quisemos buscar, a fim de apresentar um conjunto tão completo e satisfatório quanto possível e deixando um mínimo de margem à contradição.


(...)Com este objetivo recolhemos os FATOS, examinamo-los, escrutamo-los no que eles tem de mais íntimo, comentamo-los, discutimo-los friamente, sem entusiasmo; e foi assim que chegamos a descobrir o admirável encadeamento existente em todas as partes dessa vasta Ciência, que toca os mais graves interesses da Humanidade. Tal foi, senhores, até o presente, o objetivo dos nossos trabalhos, objetivo perfeitamente caracterizado pelo simples titulo de Sociedade de Estudos Espíritas, que adotamos. Reunimo-nos com o fito de nos esclarecermos, e não de nos distrairmos. Não buscando uma diversão, não queremos divertir aos outros. Por isso não queremos senão ter ouvintes sérios, ao invés de curiosos, que julgassem aqui encontrar um espetáculo. O Espiritismo é uma Ciência e, como qualquer outra Ciência, não se aprende brincando. Ainda mais, tomar as almas que se foram como assunto para distração seria faltar ao respeito a que fazem jus; especular sobre sua presença e sua intervenção seria impiedade e profanação.

Estas reflexões respondem à censura que algumas pessoas nos dirigiram, por voltar a fatos conhecidos e não procurar constantemente novidades.

(...) Aliás, senhores, não penseis que a opinião dos que criticam a organização da Sociedade seja a dos verdadeiros amigos do Espiritismo; não, é a dos seus inimigos, que estão magoados por ver a Sociedade seguir seu caminho com calma e dignidade, através das ciladas que lhe prepararam e ainda preparam. Eles lamentam que ingressar nela, seja difícil porque ficariam encantados de aqui vir semear a perturbação.


(...)É por isso também que a censuram de limitar o círculo de seus trabalhos, e pretendem que só se ocupa de coisas insignificantes e sem alcance, porque ela se abstém de tratar de questões políticas e religiosas; queriam vê-la entrar na controvérsia dogmática. Ora é isso precisamente o que os denuncia.

(...)Tal qual é hoje professada, a doutrina espírita tem uma amplidão que lhe permite abarcar todas as questões de ordem moral: satisfaz a todas as aspirações, e, pode-se dizer, ao mais exigente raciocínio, para quem quer que se dê ao trabalho de estudá-la e não esteja dominado pelos preconceitos. (...)"

Por tudo isso que Kardec falou, é que fica a necessidade de antes de crermos, ESTUDARMOS para COMPREENDER., pois assim (completando com Krishnamurti C. Dias), é que se ficará livre das opiniões, preconceitos, más vontades e demais coisas alheias ao tema espiritismo, evitando-se a desinformação que vigeu durante muito tempo (e ainda vige) no espiritismo no Brasil e possamos dar seqüência a informação do espiritismo, realmente compreendido.

PS: Para quem não possui a Revista Espírita, aqui vai o texto na íntegra: http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/Revista_Espirita/Textos/DIS_A_KARDEC_5_ABR_1861.htm




domingo, 24 de junho de 2012

A Obsessão Espiritual



Prólogo: Obsessão é sempre quando a pessoa está obcecada por idéias fixas, só que estas, no caso, são semeadas por espíritos.Reparem que as certas pessoas sobre as quais o texto 1 fala são sempre mediuns,  que se ressalta no texto 2, mas lembramos que todos somos mediuns no  dizer de Kardec, o que não deve preocupar ninguém, pois pode-se ter ideias fixas sem que a causa seja uma obsessão espiritual e a causa ser puramente da própria pessoa, razão pela qual Kardec diz:"Se fosse útil que pudéssemos distinguir os nossos próprios pensamentos  daqueles que nos são sugeridos. Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a noite.  Quando uma coisa permanece vaga, é assim que deve ser para o nosso bem." 

E, além do mais, ninguém será "pescado" ao acaso, na rua, por algum espírito obsessor à espreita de qualquer um que esteja desatento. 

E como prometemos na última edição, aqui está um artigo tratando da Obsessão espiritual.


Parte I - Allan Kardec (in Obras Póstumas)

A obsessão é o império que maus Espíritos tomam sobre certas pessoas, tendo em vista dominá-las e submetê-las à sua vontade, pelo prazer que sentem em fazer o mal.

Quando um Espírito, bom ou mau, quer agir sobre um indivíduo, ele o envolve, por assim dizer, com o seu perispírito, como um manto; os fluidos se penetram, os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e o Espírito pode, então, se servir desse corpo como do seu próprio, fazê-lo agir segundo a sua vontade, falar, escrever, desenhar, tais são os médiuns. Se o Espírito é bom, a sua ação é doce, benfazeja; ele não leva a fazer senão boas coisas; se é mau, leva a fazê-las más; se é perverso e mau, constrange-o, como numa rede, paralisa até a sua vontade, o seu julgamento mesmo, que abafa sob o seu fluido, como se abafa o fogo sob uma camada de água; fá-lo pensar, falar, agir por ele, impele-o, apesar dele, a atos extravagantes ou ridículos, em uma palavra, o magnetiza, o cataleptiza moralmente, e o indivíduo se torna um instrumento cego de suas vontades. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em graus de intensidade muito diferentes. É ao paroxismo da subjugação que se chama vulgarmente de possessão. Há a se anotar que, neste caso, freqüentemente, o indivíduo tem a consciência de que o que faz é ridículo, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais vigoroso do que ele fizesse mover, contra a sua vontade, os seus braços, as suas pernas e a sua língua.

Parte II - Artur Felipe Azevedo (in espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br)

Há, em "O Livro dos Espíritos", primeira e principal obra da Codificação Espírita, um questionamento de Allan Kardec aos Espíritos Superiores nos seguintes termos: 

459 - "Os espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?"

Cuja resposta foi: "A esse respeito sua influência é maior do que credes, porque, frequentemente, são eles que vos dirigem".

Allan Kardec, assim como os Espíritos Superiores que o inspiraram no trabalho de escrever e organizar as obras que compõe a Codificação Espírita, sempre se preocupou em alertar acerca dos perigos oriundos da influência dos espíritos imperfeitos. À esta influência deram o nome de "obsessão".

Didaticamente, a obsessão pode atingir três graus bem caracterizados, conforme podemos ler em "O Livro dos Médiuns":

1 - Obsessão simples , que é, segundo o Codificador, "quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu mau grado, nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e se apresenta em lugar dos que são evocados.(...) Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, sobretudo, no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, do mesmo modo que, entre nós homens, os mais honestos podem ser enganados por velhacos. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua".

(...)"Na obsessão simples, o médium sabe muito bem que se acha presa de um Espírito mentiroso e este não se disfarçade nenhuma forma dissimula suas más intenções e o seu propósito de contrariar. O médium que se mantém em guarda raramente é enganado. Este gênero de obsessão é, portanto, apenas desagradável e não tem outro inconveniente, além do de opor obstáculo às comunicações que se desejara receber de Espíritos sérios, ou dos afeiçoados".

2 - A subjugação, que é "uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. O paciente fica sob um verdadeiro jugo. A subjugação pode ser moral ou corporal"

"No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é como uma fascinação. 

No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes. 

Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era; porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente".

3 - E, finalmente, a fascinação, que "é muito mais grave, no sentido de que o médium se ilude completamente. O Espírito que o domina ganha sua confiança ao ponto de paralisar seu próprio julgamento na análise das comunicações e lhe faz achar sublimes as coisas mais absurdas"

"Há Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. Têm suas idéias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a moral, a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões prevaleçam. Para esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos para os aceitar de olhos fechados e que eles fascinam, a fim de os impedir de discernirem o verdadeiro do falso. São os mais perigosos, porque os sofismas nada lhes custam e podem tornar cridas as mais ridículas utopias.(...) Procuram deslumbrar por meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras caridade e moral. Cuidadosamente evitarão dar um mau conselho, porque bem sabem que seriam repelidos. Daí vem que os que são por eles enganados os defendem, dizendo: 'Bem vedes que nada dizem de mau'. A moral, porém, para esses Espíritos é simples passaporte, é o que menos os preocupa. O que querem, acima de tudo, é impor suas idéias por mais disparatadas que sejam".

A fim de que pudéssemos reconhecer melhor os espíritos fascinadores, Kardec os descreve:

"Os Espíritos dados a sistemas são geralmente escrevinhadores, pelo que buscam os médiuns que escrevem com facilidade e dos quais tratam de fazer instrumentos dóceis e, sobretudo,entusiastas, fascinando-os. São quase sempre verbosos, muito prolixos, procurando compensar a qualidade pela quantidade. Comprazem-se em ditar, aos seus intérpretes, volumosos escritos indigestos e frequentemente pouco inteligíveis, que, felizmente, têm por antídoto a impossibilidade material de serem lidos pelas massas. Os Espíritos verdadeiramente superiores são sóbrios de palavras; dizem muita coisa em poucas frases. Segue-se que aquela fecundidade prodigiosa deve sempre ser suspeita."

E aconselha:

"Nunca será demais toda a circunspecção, quando se trate de publicar semelhantes escritos. As utopias e as excentricidades, que neles por vezes abundam e chocam o bom-senso, produzem lamentável impressão nas pessoas ainda noviças na Doutrina, dando-lhes uma idéia falsa do Espiritismo, sem mesmo se levar em conta que são armas de que se servem seus inimigos, para ridicularizá-lo. Entre tais publicações, algumas há que, sem serem más e sem provirem de uma obsessão, podem considerar-se imprudentes, intempestivas, ou desazadas."

Os Efeitos sobre o Movimento Espírita

A fascinação é realmente mais comum do que se pensa. Tal como uma epidemia, espalhou-se, e, atualmente, atinge o Movimento Espírita como uma doença moral muito séria. Aliada à falta de estudo das obras de Kardec, à tendência cultural ao sincretismo e à ausência de discernimento e de auto-crítica, ela é responsável pela edição de livros antidoutrinários e comprometedores existentes no mercado da literatura espírita. Essas obras são escritas por médiuns e escritores muitas vezes ingênuos ou mesmo vaidosos que, sob o império da fascinação, não se dão conta do ridículo a que se submetem, comprometendo, inclusive, o sadio entendimento das massas acerca da própria Doutrina Espírita e do que ela verdadeiramente ensina.

A Salada Mística

A fascinação é, sem dúvida, a responsável por inúmeras condutas esdrúxulas observadas em núcleos ditos espíritas, tais como práticas de cunho supersticioso e místico, sem qualquer fundamento racional e doutrinário.

Na esfera da divulgação, muitos indivíduos, embora instruídos, não estão livres da fascinação. Alguns, por confiarem excessivamente no seu pretenso saber, tornam-se instrumentos de Espíritos fascinadores e passam a divulgar, através de livros ou palestras, conceitos antidoutrinários nocivos à fé (raciocinada) espírita. Adotam e divulgam uma série de "ensinos" sem qualquer fundamentação doutrinária e um discurso místico-esotérico a qual chamam de "universalismo", sendo que, quando tais "ensinos" são comparados, nota-se não haver qualquer concordância e que cada um de seus representantes diz uma coisa, baseados que estão unicamente em suas férteis imaginações e arroubos místicos.

Crianças índigoplaneta chupãoapometria, poder curador de cristais e objetos materiais,profecias mirabolantes e aterrorizantes, milagres, intraterrestres, ETs que implantam chips na cabeça dos outros, terapias exóticas e milagreiras, 4ª e 5ª dimensões que a tudo explicam,astrologia, rituais e maneirismos... Enfim, é possível listarmos aqui centenas de fantasias, conceitos e noções que não encontram o menor respaldo, nem doutrinário, nem científico, e que só afastam o indivíduo da realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita perante a opinião pública.

Infelizmente, isso tudo é conduzido por espíritos perversos, levianos e/ou pseudo-sábios, que estimulam tais fantasias de modo a atrasar o progresso do humanidade e de seus ingênuos adeptos, fazendo-se valer de indivíduos incautos, de mente imaginosa e que carecem de aprofundamento e estudo das questões mais básicas do conhecimento, tanto do ponto-de-vista humano quanto espiritual.

São pessoas que ainda atrelam as questões do espírito ao maravilhoso, ao sobrenatural, ao milagreiro, ao aterrador, ao fantástico, esquecendo-se da razão, da racionalidade e da necessidade de tudo aferir para que então se possa, enfim, acreditar. Em tudo crêem, bastando que esteja um médium, um espírito ou algo que o valha a ditar alguma tolice sem sentido - desde que recheada de palavras bonitas e pomposas - para que sejam imediatamente aceitas como reflexo da Verdade e da mais pura "revelação" espiritual..

Quando chamados à realidade, vociferam, alegando terem a liberdade de pensarem como quiserem e que não se encontram "presos" a nenhuma "ortodoxia", não se importando que levam, de roldão, dezenas de outras consciências ao abismo de seus devaneios místicos, com que se aferram, julgando-se "especiais", "escolhidos"...

A Fascinação nos Grupos Espíritas


Allan Kardec alerta para outro grave perigo: o da fascinação de grupos espíritas. Iniciantes afoitos e inexperientes podem cair vítimas de Espíritos mistificadores e embusteiros que se comprazem em exercer domínio intelectual sob todos aqueles que lhes dão ouvidos, manifestando-se algumas vezes como guias, missionários, e até como Espíritos de outra natureza, advindos de algum planeta ou galáxia distante. O mesmo pode ocorrer com grupos experientes que se julguem maduros o suficiente. O orgulho e o sentimento de superioridade é a porta larga para a entrada dos Espíritos fascinadores. Portanto, deve-se tomar todo o cuidado quando na direção de centros espíritas e das sessões de atividades mediúnicas. Os dirigentes são alvos preferidos dos Espíritos hipócritas que, dominando-os, podem mais facilmente dominar o grupo. 

Preocupado com tais descaminhos, o espírito Vianna de Carvalho ditou a seguinte mensagem, intitulada "Esquisitices e Espiritismo":

"Ressumam com frequência nos arraiais da prática mediúnica esdrúxulas superstições que tomam corpo, teimosamente, entre os adeptos menos esclarecidos do Espiritismo, grassando por descuido dos estudiosos, que preferem adotar uma posição dubidativa, à coerência doutrinária de que sobejas vezes deu mostras o insigne Codificador.

Pretendendo não se envolver no desagrado da ignorância que se desdobra sob a indumentária de fanatismos repetitivos, alguns espíritas sinceros, encarregados de esclarecer, consolar e instruir doutrinariamente o próximo, fazem-se tolerantes com erros lamentáveis, em detrimento da salutar propaganda da Doutrina de Jesus, ora atualizada pelos Espíritos Superiores. A pretexto de não contrariarem a petulância e o aventureirismo, cometem o nefando engano de compactuarem com o engodo, desconcertando as paisagens da fé e, sem dúvida, conspurcando os postulados kardecistas, que pareceriam aceitar esses apêndices viciosos e jargões deturpadores como informações doutrinárias. (...)

De uma lado, é a ausência de estudo sistemático, de autodidatismo espíritico, haurido na Codificação, de atualização doutrinária em face das conquistas do moderno pensamento filosófico e tecnológico; doutro, é o desamor com que muitos confrades, após se adentrarem no conhecimento imortalista, mantêm atitude de indiferença, resguardando a própria comodidade, por egoísmo, recusando-se a experimentar problemas e tarefas, caso se empenhassem na correta difusão e no eficiente esclarecimento espírita; ainda por outra circunstância, é a falsa supervalorização que se atribuem muitos, preferindo a distância, como se a função de quem conhece não fosse a de elucidar os que jazem na incipiência ou na sombra das tentativas infelizes; e, normalmente, é porque diversos preferem a falsa estima em que se projetam ilusoriamente a desfavor do aplauso da consciência reta e do labor retamente realizado...

...E surgem esquisitices que recebem as manchetes do sensacionalismo da Imprensa mais interessados na divulgação infeliz que atrai clientes, do que na informação segura que serve como luzes do esclarecimento eficiente.

Médiuns e médiuns pululam nos diversos campos da propaganda, autopromovendo-se, mediante ridículos conciliábulos como 'status' de fantasias vigentes no báratro em que se converteu a Terra, sem aferição de valores autênticos, com raras exceções, conduzindo, quase sempre, a deplorável vulgaridade a nobre Mensagem dos Céus, assim chafurdando levianamente nos vícios que incorrem. Fazem-se instrumentos de visões extravagantes e dizem-se dialogando com anjos e santos desocupados, quando não se utilizando, ousadamente, dos venerandos nomes de Cristo e Maria, dos Apóstolos e dos eminentes sábios e filósofos do passado, que retornam com expressões da excentricidade, abordando temas de somenos importância em linguagem chã, com despautérios, em desrespeito pelas regras elementares da lógica e da gramática, na forma em que se apresentam. Parecia que a desencarnação os depreciara, fazendo-os perder a lucidez, o patrimônio moral-intelectual conseguido nos longos sacrifícios em que se empenharam arduamente. Prognosticam, proféticos, os fins dos tempos chegados e, imaginosos, recorrem ao pavor e à linguagem empolada, repetindo as proezas confusas de videntes do pretérito, atormentados que são, a seu turno, no presente.

Utilizando-se das informações honestas da Ciência, passam à elaboração de informes fantásticos, fomentando débeis vagidos de 'ciência-ficção', entregando-se a debates e provas inexpressivas retiradas de lacônicos telegramas de agências noticiosas, com que esperam positivar seus informes sobre a vida em tais ou quais condições, nesse ou naquele Planeta do Sistema Solar, ou noutra galáxia que se lhe torne simpática, como se a Doutrina já não o houvera oportunamente conceituado com segurança a questão, à Ciência competindo o labor de trazer a sua própria afirmação, sem incorrerem os espiritistas no perigo do ridículo desnecessário...
 

Outras vezes entregam-se à atualização de antigas crendices e feitiços, enredando os neófitos em mancomunações com Entidades infelizes ainda anestesiadas pelos tóxicos de última reencarnação, vinculadas às impressões do que acreditavam e se demoram cultuando...

Receitam práticas estranhas e confusas, perturbando as mentes que se encontram em plena infância da cultura como da experiência superior, tornando-se chefes e condutores cegos que são, conduzindo outros cegos, conforme a lição evangélica, terminando por caírem todos no mesmo abismo...

O Espiritismo é simples e fácil como a verdade quando penetrada.

Deixá-lo padecer a leviana aventura de pessoas irresponsáveis, ingênuas ou malévolas, é gravame de que não se poderão eximir os legítimos adeptos da Terceira Revelação.

(...)Cabem, frequentemente, sempre que possíveis, as honestas informações entre Doutrina Espírita e Doutrinas Espiritualistas, prática espírita e práticas mediúnicas, opinião espírita e opiniões medianímicas, calcadas na Codificação Kardequiana, que delineou, aliás, com muita propriedade, as características do Espiritismo, conforme se lê na Introdução de 'O Livro dos Espíritos', estando presente em todo o Pentateuco, que desdobra os postulados mestres em incomparáveis estudos de perfeita atualidade, a resistirem a todas as investidas da razão, da técnica e da fé contemporâneas".


Questão de Coerência

Como já pudemos constatar em vários artigos, não só o Codificador e os Espíritos ligados diretamente à Codificação se preocupavam com os rumos do movimento Espírita e a nefasta tendência das ideias demasiado heterodoxas e suas infiltrações no Movimento Espírita, mas também outras entidades espirituais têm atualmente evidenciado grande preocupação com a invasão de práticas e conceitos estranhos advindos do Orientalismo e do Africanismo, que são respeitáveis, mas que não coadunam com os ensinamentos espíritas.

Portanto, estudemos, pois, a Doutrina Espírita, e atentemos para os desvios que sorrateiramente encarnados e desencarnados propõem de maneira leviana e até irresponsável, para que, amanhã, não caiamos nós nas teias e descaminhos da fascinação

Parte III - Allan Kardec (in Obras Póstumas)

É necessário dizer, também, que se acusam, freqüentemente, os Espíritos estranhos de danos dos quais são muito inocentes; certos estados doentios, e certas aberrações que se atribuem a uma causa oculta, por vezes, devem-se simplesmente ao Espírito do próprio indivíduo. As contrariedades, que mais comumente cada um se concentra em si mesmo, sobretudo os desgostos amorosos, fazem cometer muitos atos excêntricos que se estaria errado em levar à conta da obsessão. Freqüentemente, pode ser-se obsessor de si próprio.

Acrescentemos, enfim, que certas obsessões tenazes, sobretudo nas pessoas de mérito, algumas vezes, fazem parte das provas às quais estão submetidas. "Ocorre mesmo, por vezes, que a obsessão, quando é simples, é uma tarefa imposta ao obsidiado, que deve trabalhar para a melhoria do obsessor, como um pai pela de um filho viciado."

(Para maiores detalhes, remetemos a O Livro dos Médiuns.)

A prece, geralmente, é um meio poderoso para ajudar na libertação dos obsidiados, mas não é uma prece de palavras, dita com indiferença e como uma fórmula banal, que pode ser eficaz em semelhante caso; é necessária uma prece ardente que seja, ao mesmo tempo, uma espécie de magnetização mental; pelo pensamento pode-se levar, sobre o paciente, uma corrente fluídica salutar, cuja força está em razão da intenção. A prece não tem, pois, somente por efeito invocar um socorro estranho, mas de exercer uma ação fluídica. O que uma pessoa não pode fazer só, várias pessoas unidas pela intenção, numa prece coletiva e reiterada, freqüentemente o podem, sendo a potência da ação aumentada pelo número.

A ineficácia do exorcismo nos casos de possessão está constatada pela experiência, e está provado que, a maior parte do tempo, aumenta o mal antes que o diminua. A razão disso é que a influência está inteiramente no ascendente moral exercido sobre os maus Espíritos, e não num ato exterior, na virtude das palavras e de sinais. O exorcismo consiste nas cerimônias e fórmulas das quais se riem os maus Espíritos, ao passo que eles cedem à superioridade moral que se lhes impõe; vêem que se quer dominá-los por meios impotentes, que se pensa intimidá-los por um vão aparelho, e tratam de se mostrar os mais fortes, por isso é que redobram; são como o cavalo assustado, que lança por terra o cavaleiro inábil, e que se submete quando encontra o seu senhor; ora, o verdadeiro senhor aqui é o homem de coração mais puro, porque é este que é o mais escutado pelos bons Espíritos.

O que um Espírito pode fazer sobre um indivíduo, vários Espíritos podem fazê-lo sobre vários indivíduos, simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir uma localidade, e ali se manifestar de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que maltratou a Judéia ao tempo do Cristo; ora, o Cristo, pela sua imensa superioridade moral, tinha sobre os demônios, ou maus Espíritos, uma superioridade moral tal que lhe bastava ordenar-lhes para se retirarem, para que eles o fizessem, e não empregava para isso nem sinais, nem fórmulas.

O Espiritismo está fundado sobre a observação dos fatos resultantes das relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Estando esses fatos na Natureza, produziram-se em todas as épocas, e são muitos sobretudo nos livros sagrados de todas as religiões, porque serviram de base à maioria das crenças. Por falta de compreendê-los, foi que a Bíblia e os Evangelhos oferecem tantas passagens obscuras e que foram interpretadas em sentidos tão diferentes; o Espiritismo é a chave que deve facilitar-lhes a inteligência.