"Você sabe que eu não fico
em cima do muro, mas em contrapartida, você pode concordar ou discordar, afinal
de contas, longe, mas bem longe de mim a pretensão de ser dono da verdade, mas
se o negocio é informar, cá estamos nós." - Inspirado em frase do radialista Fernando Sérgio.
O espírita é antes de
ser espírita, um espírito e um espírito que está na condição de cidadão e como
cidadão tem a consciência moral e social ou pelo menos deveria ter de seus atos
e não poder se omitir.
Também por esta tomada de posicionamento ativo
que o espírita precisa ter, não basta só ele orar pelos desafortunados ou pelas
vitimas de acidentes, o que é importante, sem dúvida, mas que apenas isso, não
será solução para se evitar novos infortúnios ou acidentes que cheguem a
vitimar pessoas, inclusive, visto que a solução passa necessariamente por uma
série de medidas sociais que envolve a franca participação de cada um no seu
papel perante a sociedade.
Em relação à tragédia ocorrida em Santa Maria,
os culpados fomos todos nós, em última análise, enquanto sociedade.
A culpa não é só dos proprietários da boate, nem só dos artistas que usaram
fogos de artifício no recinto fechado. Começa lá atrás no tipo de sociedade que
estamos construindo. Os valores éticos de há muito perderam lugar para o ganho
fácil, a licenciosidade, a politicagem do 'deixa assim como está' para não
contrariar certos setores e a tremenda incapacidade institucional, para o
“isso não é comigo”.
A permissividade abusiva de uso de fogos de
artifício já de há muito vem sendo denunciada. Mas parece que não sensibilizou
nem o público, nem as autoridades, mesmo que tragédias semelhantes hajam
acontecido em Buenos Aires, Nova Iorque, China, Tailândia, Moscou, entre
outras. Essas práticas repetidas se consolidaram na sociedade e agora só
a“pedagogia
da tragédia” para encaminhar o tema como uma
questão de segurança, pois queimar fogos e soltar sinalizadores em recinto
fechado é crime ambiental e atentado à integridade física devido à fumaça tóxica
que tais artefatos expelem Assim, a sociedade foi convivendo com
situações de risco como se fossem coisas da modernidade e as autoridades tem
sido omissas.
Afinal, você quando vai ao cinema se preocupa em
ver se há saídas de emergências? Ou nem se preocupa pois incêndios só acontecem
com “os outros”, logo você não tem por que denunciar se no local há
irregularidades e senta-se e assiste o filme.... até que venha a “pedagogia da tragédia”.
O que não pode mais é sermos omissos enquanto
cidadãos, sermos omissos enquanto espíritas. Ou como diz a frase que ficou
famosa no Movimento Espírita "o que nao se aprende pelo amor, se aprende
pela dor" e eu completo... "só por que a gente quer".
Uma coisa que não pode mais acontecer é o fuxico
reencarnatório sobre quem foi quem ou quem fez o que no passado para justificar
o gênero de morte que se tem, mormente quando se trata de desencarnes
coletivos. E os "espíritas" adoram isso, são as 'candinhas'
espiritas. E um desses fuxicos espíritas é o incendio de 1961 que matou 500
pessoas no circo em Niteroi, quando se "revelou" ??? que o incendio no
circo resgatou 500 romanos do Coliseu que mandaram pra morte os cristaos.
Ou como o fuxico reencarnatório do menino João Hélio, que desencarnou arrastado por automóvel roubado por ladroes. A tal "psicografia" dizia que João Hélio havia sido antes, em 22 a.C, um oficial nascido na Gália, comandante da Legião dos Leões, que adorava atrelar crianças, velhos e mulheres em sua biga puxada por dois cavalos. O suposto espirito disse que escolhera para ser seus pais como João Hélio, duas das vitimas tiranizadas por ele quando comandante.
Querem apostar
quanto como logo aparecerá algum médium (ou profeta do pretérito, como bem
disse o Moura Rego, um amigo meu) que dirá que no caso da boate em Santa Maria, os jovens
que morreram asfixiados resgataram o passado criminoso que tiveram como
nazistas na segunda Guerra por mandarem os judeus para as camaras de gás?
E eu digo: isso
importa? Isso resolverá o problema? E mais, dou minha cara a tapa se em até 1
ano não aparecer uma mensagem mediunica assim ou parecida com esse chute que dei acima.
O que deveria
importar a nós é o que podemos evitar e o que podiamos evitar é o jogo dos 7
erros que houve neste caso de Santa Maria:
1) teve menores (16
anos) na boate onde deveria ser proibida a entrada de menores;
2) o vocalista
soltou sinalizador em ambiente fechado e de teto rebaixado;
3) o alvará estava
vencido ha 6 meses;
4) nao havia saidas
de emergencia;
5) nao havia alarme
contra fumaças nem splinters (chuveiros contra incendios);
6) os seguranças
fecharam a rota de fuga dos estudantes por medo deles nao pagarem;
7) havia grades
obstruindo a saida.
Certamente, aparecerão alguns EUspiritas que, interpretando o Livro dos Espiritos ao pé da letra, dirão que nada acontece sem que seja da vontade de Deus ou que Deus queira. De certa maneira isso é verdade, pois está descrito assim na questão 529 do LE, mas entendamos essa "vontade de Deus" como uma "permissão" para que a lei se cumpra, uma vez que o NOSSO livre-arbitrio e NOSSA invigilancia foram determinantes para que a lei divina seguisse seu curso.
Por isso tudo, é que fica a lição da Pedagogia da Tragédia. Oremos, mas sobretudo vigiemos, até mesmo, inclusive, para que fatos como o de Santa Maria não ocorram mais.
Aliás, peço licença a vocês para reproduzir um poema feito pelo poeta e jornalista gaucho, Fabricio Carpinejar:
"Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido."
Brilhante esta postagem. É o texto mais sensato e lógico que já li sobre esta triste tragédia. Concordo plenamente com todo o texto.
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