domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pedagogia Da Tragédia


"Você sabe que eu não fico em cima do muro, mas em contrapartida, você pode concordar ou discordar, afinal de contas, longe, mas bem longe de mim a pretensão de ser dono da verdade, mas se o negocio é informar, cá estamos nós." - Inspirado em frase do radialista Fernando Sérgio.





O espírita é antes de ser espírita, um espírito e um espírito que está na condição de cidadão e como cidadão tem a consciência moral e social ou pelo menos deveria ter de seus atos e não poder se omitir. 

Também por esta tomada de posicionamento ativo que o espírita precisa ter, não basta só ele orar pelos desafortunados ou pelas vitimas de acidentes, o que é importante, sem dúvida, mas que apenas isso, não será solução para se evitar novos infortúnios ou acidentes que cheguem a vitimar pessoas, inclusive, visto que a solução passa necessariamente por uma série de medidas sociais que envolve a franca participação de cada um no seu papel perante a sociedade.

Em relação à tragédia ocorrida em Santa Maria, os culpados fomos todos nós, em última análise,  enquanto sociedade.  A culpa não é só dos proprietários da boate, nem só dos artistas que usaram fogos de artifício no recinto fechado. Começa lá atrás no tipo de sociedade que estamos construindo. Os valores éticos de há muito perderam lugar para o ganho fácil, a licenciosidade, a politicagem do 'deixa assim como está' para não contrariar  certos setores e a tremenda incapacidade institucional, para o “isso não é comigo”. 

A permissividade abusiva de uso de fogos de artifício já de há muito vem sendo denunciada. Mas parece que não sensibilizou nem o público, nem as autoridades, mesmo que tragédias semelhantes hajam acontecido em Buenos Aires, Nova Iorque, China, Tailândia, Moscou, entre outras. Essas práticas repetidas se consolidaram  na sociedade e agora só a“pedagogia da tragédia” para encaminhar o tema como uma questão de segurança, pois queimar fogos e soltar sinalizadores em recinto fechado é crime ambiental e atentado à integridade física devido à fumaça tóxica que tais artefatos expelem   Assim, a sociedade foi convivendo com situações de risco como se fossem coisas da modernidade e as autoridades tem sido omissas. 

Afinal, você quando vai ao cinema se preocupa em ver se há saídas de emergências? Ou nem se preocupa pois incêndios só acontecem com “os outros”, logo você não tem por que denunciar se no local há irregularidades e senta-se e assiste o filme.... até que venha a “pedagogia da tragédia”.

O que não pode mais é sermos omissos enquanto cidadãos, sermos omissos enquanto espíritas. Ou como diz a frase que ficou famosa no Movimento Espírita "o que nao se aprende pelo amor, se aprende pela dor" e eu completo... "só por que a gente quer". 

Uma coisa que não pode mais acontecer é o fuxico reencarnatório sobre quem foi quem ou quem fez o que no passado para justificar o gênero de morte que se tem, mormente quando se trata de desencarnes coletivos. E os "espíritas" adoram isso, são as 'candinhas' espiritas. E um desses fuxicos espíritas é o incendio de 1961 que matou 500 pessoas no circo em Niteroi, quando se "revelou" ??? que o incendio no circo resgatou 500 romanos do Coliseu que mandaram pra morte os cristaos.

Ou como o fuxico reencarnatório do menino João Hélio, que desencarnou arrastado por automóvel roubado por ladroes. A tal "psicografia" dizia que João Hélio havia sido antes, em 22 a.C, um oficial nascido na Gália, comandante da Legião dos Leões, que adorava atrelar crianças, velhos e mulheres em sua biga puxada por dois cavalos. O suposto espirito disse que escolhera para ser seus pais como João Hélio, duas das vitimas tiranizadas por ele quando comandante.


Querem apostar quanto como logo aparecerá algum médium (ou profeta do pretérito, como bem disse o Moura Rego, um amigo meu) que dirá que no caso da boate em Santa Maria, os jovens que morreram asfixiados resgataram o passado criminoso que tiveram como nazistas na segunda Guerra por mandarem os judeus para as camaras de gás? 

E eu digo: isso importa? Isso resolverá o problema? E mais, dou minha cara a tapa se em até 1 ano não aparecer uma mensagem mediunica assim ou parecida com esse chute que dei acima.

O que deveria importar a nós é o que podemos evitar e o que podiamos evitar é o jogo dos 7 erros que houve neste caso de Santa Maria:

1) teve menores (16 anos) na boate onde deveria ser proibida a entrada de menores;
2) o vocalista soltou sinalizador em ambiente fechado e de teto rebaixado;
3) o alvará estava vencido ha 6 meses;
4) nao havia saidas de emergencia;
5) nao havia alarme contra fumaças nem splinters (chuveiros contra incendios);
6) os seguranças fecharam a rota de fuga dos estudantes por medo deles nao pagarem; 
7) havia grades obstruindo a saida.


Certamente, aparecerão alguns EUspiritas que, interpretando o Livro dos Espiritos ao pé da letra, dirão que nada acontece sem que seja da vontade de Deus ou que Deus queira. De certa maneira isso é verdade, pois está descrito assim na questão 529 do LE, mas entendamos essa "vontade de Deus" como uma "permissão" para que a lei se cumpra, uma vez que o NOSSO livre-arbitrio e NOSSA invigilancia foram determinantes para que a lei divina seguisse seu curso.

Por isso tudo, é que fica a lição da Pedagogia da Tragédia. Oremos, mas sobretudo vigiemos, até mesmo, inclusive, para que fatos como o de Santa Maria não ocorram mais.

Aliás, peço licença a vocês para reproduzir um poema feito pelo poeta e jornalista gaucho, Fabricio Carpinejar:

"Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. 


A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido." 





Um comentário:

  1. Brilhante esta postagem. É o texto mais sensato e lógico que já li sobre esta triste tragédia. Concordo plenamente com todo o texto.

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